terça-feira, 30 de junho de 2009

O meu destino...


" Que estranho destino é o meu que apenas me consente paixões ardentes e me faz esgotar em amores improváveis. " José Manuel Saraiva

Pra ti! Eu peço!

Anjos, respondam-me,
Vocês estarão por perto se a chuva cair?
Devo acreditar que
Vocês surgirão para serenar a tempestade?
Por um tesouro tão formidável assim, as palavras nunca serão suficientes.
Certamente, se assim for,
As promessas são minhas para lhe oferecer.
Minhas para oferecer...
Aqui, é totalmente cedo demais o dia!
Desejo que a lua se ponha e mude o amanhã.
Eu devia saber que
O céu tem seu caminho
Cada um, com determinadas lembranças próprias.
Anjos, tudo podia acontecer
Vocês moveriam ambos, a terra o mar e o sol?
Anjos, eu podia sentir
Todas aquelas nuvens escuras desaparecendo...
Igualmente, enquanto eu respiro
Vem um anjo para sua guarda.
Certamente, se assim for
As promessas são minhas para lhe oferecer. Minhas para oferecer...

Angels - Enia

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O tempo que nos resta!


De súbito sabemos que é já tarde. Quando a luz se faz outra, quando os ramos da árvore que somos soltam folhas e o sangue que tínhamos não arde como ardia, sabemos que viemos e que vamos. Que não será aqui a nossa festa. De súbito chegamos a saber que andávamos sozinhos. De súbito vemos sem sombra alguma que não existe aquilo em que nos apoiávamos. A solidão deixou de ser um nome apenas. Tocamo-la, empurra-nos e agride-nos. Dói. Dói tanto! E parece-nos que há um mundo inteiro a gritar de dor, e que à nossa volta quase todos sofrem e são sós. Temos de ter, necessariamente, uma alma. Se não, onde se alojaria este frio que não está no corpo? Rimos e sabemos que não é verdade. Falamos e sabemos que não somos nós quem fala. Já não acreditamos naquilo que todos dizem. Os jornais caem-nos das mãos. Sabemos que aquilo que todos fazem conduz ao vazio que todos têm. Poderíamos continuar adormecidos, distraídos, entretidos. Como os outros. Mas naquele momento vemos com clareza que tudo terá de ser diferente. Que teremos de fazer qualquer coisa semelhante a levantarmo-nos de um charco. Qualquer coisa como empreender uma viagem até ao castelo distante onde temos uma herança de nobreza a receber. O tempo que nos resta é de aventura. E temos de andar depressa. Não sabemos se esse tempo que ainda temos é bastante. E de súbito descobrimos que temos de escolher aquilo que antes havíamos desprezado. Há uma imensa fome de verdade a gritar sem ruído, uma vontade grande de não mais ter medo, o reconhecimento de que é preciso baixar a fronte e pedir ajuda. E perguntar o caminho. Ficamos a saber que pouco se aproveita de tudo o que fizemos, de tudo o que nos deram, de tudo o que conseguimos. E há um poema, que devíamos ter dito e não dissemos, a morder a recordação dos nossos gestos. As mãos, vazias, tristemente caídas ao longo do corpo. Mãos talvez sujas. Sujas talvez de dores alheias. E o fundo de nós vomita para diante do nosso olhar aquelas coisas que fizemos e tínhamos tentado esquecer. São, algumas delas, figuras monstruosas, muito negras, que se agitam numa dança animalesca. Não as queremos, mas estão cá dentro. São obra nossa. Detestarmo-nos a nós mesmos é bastante mais fácil do que parece, mas sabemos que também isso é um ponto da viagem e que não nos podemos deter aí. Agora o tempo que nos resta deve ser povoado de espingardas. Lutar contra nós mesmos era o que devíamos ter aprendido desde o início. Todo o tempo deve ser agora de coragem. De combate. Os nossos direitos, o conforto e a segurança? Deixem-nos rir... Já não caímos nisso! Doravante o tempo é de buscar deveres dos bons. De complicar a vida. De dar até que comece a doer-nos. E, depois, continuar até que doa mais. Até que doa tudo. Não queremos perder nem mais uma gota de alegria, nem mais um fio de sol na alma, nem mais um instante do tempo que nos resta.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Saber esperar...


Um dos mais significativos desafios que a vida nos apresenta é aprender a esperar. Sempre me pergunto por que a maioria de nós não é orientada, ao longo de sua formação, sobre o valor da espera paciente.Acredito que a razão esteja principalmente no fato de que a maior parte da humanidade vive totalmente inconsciente dos ciclos naturais da vida. Quanto mais próximo da natureza viver, mais sabedoria o homem tem a oportunidade de adquirir, pois ele passa, então, a mover-se num ritmo totalmente diferente, muito mais lento do que aquele que a vida nas metrópoles impõe.Pessoas sem qualquer refinamento intelectual aprendem através de um método bastante simples, o da observação, que tudo na natureza tem um ritmo próprio. Só o ser humano destoa desta harmonia, pois insiste em querer apressar os acontecimentos de acordo com os seus desejos, sempre determinados pelo ego.·A sabedoria oriental, expressa numa de suas mais valiosas obras, o I Ching, nos ensina a importância de nos sentirmos parte integrante da natureza, e de agirmos sempre em sintonia com o seu ritmo, plantando as sementes do que queremos e esperando pelo momento propício para vê-las germinar.Quanto mais rapidamente aprendermos esta lição, mais facilmente atingiremos um estado de equilíbrio e serenidade, e nos libertaremos do desejo de querer controlar os acontecimentos, a maior das ilusões que podemos alimentar.Nós nos esquecemos de como esperar; este é um espaço quase abandonado. No entanto, ser capaz de esperar pelo momento certo é nosso maior tesouro. A existência inteira espera pelo momento certo. Até as árvores sabem disso - qual é o momento de florescer, e o de deixar que as folhas caiam, e de se erguerem nuas ao céu. Também nessa nudez elas são belas, esperando pela nova folhagem com grande confiança de que as folhas velhas tenham caído, e de que as folhas novas logo estarão chegando. E as folhas novas começarão a crescer.Nós nos esquecemos de como é esperar: queremos tudo com pressa. Trata-se de uma grande perda para a humanidade... Em silêncio e à espera, alguma coisa dentro de você vai crescendo - o seu autêntico ser. Um dia ele salta e se transforma numa labareda, e a sua personalidade inteira é estilhaçada: você é um novo homem. E esse novo homem conhece os sumos eternos da vida".